Entrevistas

Caso de sucesso: um sistema fotovoltaico em Autoconsumo Coletivo entre empresas

Conheça um exemplo de autoconsumo coletivo através de uma cobertura fotovoltaica tipo pérgola!

Este sistema tem cerca de 300 kWp e é composto por painéis monocristalinos. Optou-se por instalar o máximo possível na cobertura, pois a instalação teve como propósito um autoconsumo coletivo. Dado que neste edifício de escritórios existem várias empresas com perfis de consumo diferentes, através do autoconsumo coletivo, é possível utilizar melhor a eletricidade produzida, distribuindo-a por todos os consumidores.

Quando o edifício foi construído, houve bastante resistência pelo facto de ter muitas máquinas de ar-condicionado na cobertura. Tendo isso em conta, optou-se por aproveitar a pérgola metálica que já cobria parte das máquinas e aplicar o fotovoltaico sobre a mesma. Não houve qualquer reação negativa à presença do fotovoltaico. Mas para o fazer, foi preciso ultrapassar alguns desafios. Tais como: encontrar peças específicas que permitissem aproveitar a estrutura existente para a fixação dos painéis, reforçar a estrutura existente nos pontos onde havia essa necessidade, deixar zonas livres para corredores de ventilação, entre outros. Mas tudo isto fez com que, em vez de termos uma instalação de 100 kWp, tenhamos 300 kWp. Portanto, triplicou-se a capacidade sem aumentar proporcionalmente o custo.

O fotovoltaico é atualmente a tecnologia de produção de eletricidade mais económica de todas. No caso desta instalação no topo do edifício relativamente alto, com algumas particularidades, o investimento ficou à volta de 200 mil euros, sensivelmente. Esta era uma oportunidade que ninguém estava ainda a aproveitar, pelo que resolvemos realizar o investimento e esperamos obter o nosso retorno dentro de um período aceitável.

Desenvolvemos a nossa própria plataforma, chamada We.3Nergy, que permite a cada membro perceber a eletricidade que está a autoconsumir e a que está a produzir, caso seja produtor. Ou seja, cada um entende qual é que é o seu papel no autoconsumo coletivo, pode saber quanto já poupou e quanto é que vai pagar no próximo mês, por exemplo. Esta plataforma recebeu o Portugal Digital Awards em 2022, um importante reconhecimento da indústria.

Normalmente é anual, para verificar as questões de segurança (por exemplo, se os componentes estão bem fixados, os parafusos) e também se as componentes elétricas estão todas a funcionar. Em certos casos, recorremos a termografia ou outros tipos de inspeção que complementem uma motorização contínua ao longo do ano. Já a limpeza dá-se, pelo menos, duas vezes por ano, para evitar perdas de produção significativas.

Em vez de cada um pensar por si e fazer uma pequena instalação só para aquilo que consome – o que dificilmente se adapta ao seu perfil de consumo – deve optar-se por tirar todo o valor do nosso sol, maximizando a produção solar, e partilhar com os nossos vizinhos. A energia é mais barata, mais limpa, e envolve menos perdas na sua distribuição. Por outro lado, está-se a aproveitar um telhado que antes não tinha grande utilidade e que, graças ao fotovoltaico, passa a ter múltiplos outros propósitos.

Neste edifício, existem várias empresas que utilizam servidores cujo consumo energético é muito intenso. Deste modo, grande parte da produção solar é naturalmente consumida por estes equipamentos, sendo o excedente partilhado, o que resulta num autoconsumo de praticamente 100%. Para quem vai consumir a eletricidade produzida por este sistema, a poupança é imediata porque vai ser fornecida a um preço muito inferior ao valor da eletricidade obtida da rede.

Atualmente a GreenVolt já conta com cerca de 1,5 MW na cidade de Lisboa, entre creches, escolas, estádios de futebol, este nosso edifício. O autoconsumo coletivo vai ser determinante, pois à escala da cidade é mais difícil de articular a capacidade de produção com o consumo num regime individual: por exemplo, em estádios de futebol ou armazéns, onde a produção eletricidade solar estaria onde não há tanto consumo (fora os que tenham atividade frigorífica, por exemplo). Não faltará quem queira a eletricidade produzida, sendo importante aproveitar a diversidade de telhados na cidade.

Em Portugal, com o recurso solar abundante, não é necessário subsídios para instalar fotovoltaico, mas antes sim usar aquilo que temos: as superfícies, uma boa legislação, e a capacidade de fazer. E, neste sentido, nós estamos a viver uma revolução, se calhar ao nível da revolução industrial. Neste caso, vivemos uma revolução energética que engloba a transição para a eletricidade – uma mudança feita com evidências, ou seja, as pessoas que antes não tinham nada, de repente vêem-se a poupar, nas suas contas e no ambiente, graças ao fotovoltaico. O autoconsumo individual funciona bem quando há muito consumo para pouca produção, mas em todas as outras situações o coletivo é superior. Porque somos mais fortes quando somos todos diferentes, já que a soma das várias diferenças dá algo que é muito mais complementar e do qual se tira muito mais valor. Portanto, e é a minha definição de trabalho de equipa, e eu acho que aquilo que se está a fazer com o autoconsumo coletivo é trabalhar em equipa.

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